Paulo Franke

06 julho, 2015

Parte 1 - Historias Curtas e de Peso Ligadas à Segunda Guerra Mundial


Ao transportar-me para o ano de meu nascimento, a Segunda Guerra vem-me à lembrança.


Abrindo um armário na casa de minha filha, em busca de um copo, vi meia

dúzia de copos que meus pais ganharam como presente de casamento, em

 1936, e que agora pertencem a esta filha. Naturalmente, não peguei um

 desses finos copos (foto) para beber água, mas peguei-os com cuidado, sim,

 para fotografá-los.

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 Dizem que o Holocausto dos judeus, povo que amo de todo o coração, começou na Noite dos Cristais (Kristallnacht) devido aos vidros estilhaçados pelos nazistas nas vitrines das lojas, sinagogas e moradias de judeus. Há uma versão que diz que foi assim chamada pelo fato de que naquela trágica noite a lua era como cristal no céu escuro. Em Tel Aviv, conversei à beira-mar com um homem  idoso que se lembra de detalhes daquela noite na Alemanha.

Eu também, agora na terceira-idade, tenho vívidas memórias do passado, embora do tempo de meu nascimento, naturalmente, só o que me contaram.

Nasci na cidade de Pelotas, no sul do Brasil, durante a Segunda Guerra Mundial que, graças a Deus, não atingiu nosso país como atingiu em cheio a Europa, principalmente.  Nasci de pais tementes a Deus, casal muito bonito, nesta casa que fotografei no ano de 1974.



Esta foi a primeira página do Diário Popular de 06 de outubro de 1943, dia em que nasci.


Meu pai, estranhamente, talvez por ser muito ocupado, não mandou notícia do nascimento dos 5 filhos para o jornal local, mas minha mãe, com sua bonita caligrafia, registrou para ela mesma, em uma agenda francesa, língua da qual ela tinha bom conhecimento, dados de nosso nascimento e batismo.



Eu poderia ter nascido na Europa - ambos meus pais eram descendentes, ele  de alemães e ela de portugueses e açorianos - mas quis Deus que eu nascesse durante mas bem longe do palco da Segunda Guerra Mundial. Assim, enquanto Hitler vociferava seus malignos discursos, eu dormia calmamente no meu berço quando não chorava alto, claro
Quando visitei Varsóvia, atraíram-me estes edifícios onde viviam judeus, com fotos das pessoas que neles moravam. E ultimamente, visitando a casa onde viveu Anne Frank e sua família, antes de se esconderem no Anexo-Secreto, fotografei pela primeira vez as "pedras de tropeço" (Stolpersteine). (Veja  postagem recente neste blog).


Do outro lado do mundo, só chegavam notícias esparsas do conflito, mas depois o mundo ficou sabendo do Holocausto de judeus, principalmente. Enquanto eu crescia com saúde, paz e cercado de amor, esta família empreendia uma caminhada de muitos km que terminava nas câmeras de gas do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau (eu me parecia poucos anos mais tarde com o  menino maior desta trágica foto, em primeiro plano).

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10 anos antes de eu ter nascido...
Muitos espinhos... poucas rosas!!




Em 1933, Adolf Hitler chega ao poder na Alemanha. Einstein, judeu, encontra-se agora em perigo. É avisado por amigos de que há planos para o seu assassinato e é aconselhado a fugir. Einstein renuncia mais uma vez à cidadania alemã. A 7 de outubro de 1933 (10 anos antes de eu ter nascido) Einstein parte do porto de Southampton em um navio para os Estados Unidos, o seu novo lar. A rara foto mostra-o junto a uma banda do Exército de Salvação de Los Angeles. Anos depois soube que foi tirada durante a Rose Parade (Parada das Rosas) da qual o The Salvation Army foi um dos pioneiros, organizando e marchando, dai a foto. Albert Einstein (1879-1955) declarou: "Sem a convicção de uma harmonia íntima do universo, não poderia haver ciência".

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30 anos depois de que eu nasci, em 1973...



Na foto, tirada no final do curso que fiz no International College for Officers (ICO), em Londres, apareço com o chefe mundial do The Salvation Army, na época o sueco Erik Wickberg. Anos mais tarde na revista "O Oficial", publiquei uma história ligada a ele e intitulada "O 'Serviço 'Secreto' do General Wickberg":

"Foi em 1933 e o capitão Wickberg, de 29 anos, trabalhava na Áustria. Naquela época, o trabalho salvacionista na Áustria era supervisionado pela Alemanha, com o quartel-general em Berlim. Devido à tensão existente antes do Anschluss, quando Hitler invadiu a Áustria, não era fácil para os alemães obterem vistos de saída. Sendo que Wickberg possuía o passaporte sueco, de um país neutro, foi-lhe pedido por seu superior realizar uma tarefa delicada que exigia coragem.

"Certos rumores precisavam ser investigados e decisões importantes deveriam ser tomadas. Como o contato com Berlim não seria possível, Wickberg foi a Viena no lugar de seu líder, com a autoridade da sede da obra em Londres para apoiá-lo. E assim os temores foram confirmados. Descobriu-se que um tenente salvacionista era membro do partido nazista e usava o uniforme das tropas de storm. Wickberg imediatamente desfez a nomeação do tenente e o enviou para casa, na Alemanha, no primeiro trem disponível."

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Ainda em 1973...


Com um grupo de colegas de 25 países, visitamos certo dia a cidade de Coventry, a famosa cidade de Lady Godiva. Momento tocante foi a visita à catedral de Coventry, cujas ruínas dos bombardeios ñazistas foram preservadas e situam-se ao lado da nova e moderna catedral. No altar, atrás de uma cruz tosca, as palavras de Jesus: 
"Pai, perdoa..."


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40 anos depois de eu ter nascido...




1983. Trabalhávamos Anneli e eu no departamento editorial do quartel nacional em São Paulo, quando o Exército de Salvação do Brasil recebeu a visita de um oficial de nacionalidade alemã e de sua esposa, que é vista na foto sendo interpretada do inglês para o português por minha esposa.
Meu sogro, à esquerda, era o segundo em chefe e Carl Eliasen, à direita, na época o chefe nacional de nossa obra, que me proveu do texto abaixo:

"Tte. Coronel Flade e Sra. Dona Ursula, excelentes visitantes que contaram histórias maravilhosas. Geralmente os visitantes internacionais que passaram pela guerra estavam do lado dos aliados, assim foi muito bom ouvir também algo "do outro lado".

O Coronel Flade contou-nos que como jovem oficial salvacionista teve que servir no exército militar alemão. Devido às suas convicções, foi destacado ao corpo de enfermeiros. Certa vez, quando trabalhava em uma enfermaria, escutou um assobio que vinha de uma cama onde um soldado ferido, das forças aliadas, estava deitado.Tratava-se da melodia de um coro cantado no Exército de Salvação no mundo inteiro, digamos: “Sou feliz, sou soldado nas fileiras de Cristo”... Flade respondeu, assobiando a continuação do coro: “Aleluia! Sou feliz ...” – Logo veio do leito o eco final: “Sou soldado de Jesus!”. Estabeleceu-se assim um contato, quando ambos identificaram-se como salvacionistas, e surgiu uma maravilhosa comunhão, embora, por estarem em campos contrários, tivessem que tomar cuidado, pois eram vigiados, particularmente pelo médico-chefe da equipe nazista.”

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Nos anos 90, publiquei isto...


CONTINUA... Parte 2

1 Comments:

  • Como gosto de acompanhar suas postagens quando você escreve sobre sua família e nesta voce se superou amigo, conseguiu ligar tanta coisa acontecendo no mundo e seu nascimento.Parabéns, o Holocausto nunca pode ser esquecido...
    Devemos sempre lembrar!

    By Anonymous evelize volpi, at sexta-feira, julho 10, 2015 9:38:00 PM  

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